quinta-feira, 5 de junho de 2008

Sobreviver? Será que basta?

Sobreviver...será que basta?
Por 15 anos me comportei como uma sobrevivente que, sinceramente, acreditava ser. Lia tudo a respeito de abuso sexual e suas conseqüências, freqüentava grupos de auto ajuda, criei grupos , ministrava palestras incentivando sobreviventes a ingressarem em programas de recuperação, fazia terapia direcionada, dei nó em pingo de éter buscando suprir as lacunas que jamais seriam PREENCHIDAS.Corria de um lado pro outro, crendo que com toda aquela movimentação, conseguiria recuperar parte do que fora roubado de mim: minha infância, meus sonhos, minha inocência, minha dignidade... Numa noite de verão, rolava em minha cama, o sono havia fugido de mim, subitamente, uma pergunta gritou de meu interior: “ Até quando você vai sobreviver ?” Levantei, meio atordoada com aquela interrogação. À partir daquela noite, percebi que por 15 anos trilhara o caminho oposto ao que realmente desejara: VIVER!Foi um grande choque perceber que apesar de todas as minha boas intenções, toda dedicação, esforço e perseverança, estava na hora de realmente SAIR DA CASCA, tomar as rédeas de minha vida e crescer. Foram muitos anos agindo como vítima, depois muitos mais agindo como sobrevivente e de repente percebi que estava na hora de crescer! Fiquei em estado de choque por alguns dias, sem saber por onde começar. Olhava ao redor e não havia nada e nem ninguém com quem eu pudesse conversar, sorrir ou tampouco chorar. Tinha apenas um eco em meu interior que dizia para começar a VIVER e isso era claro como o nascer do sol.Decidi fazer uma auto avaliação e ponderar a respeito dos progressos que havia conseguido desde em que iniciei o programa de recuperação. Fiquei mais chocada ainda! Todas as conquistas que pensei ter alcançado, não possuíam consistência, eram apenas mais métodos que desenvolvi para continuar sobrevivendo, só que de uma forma “saudável”. Somente à partir deste dia , percebi que era hora de construir, e é assim que começa a história... (continua)

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Entrevista com a autora do livro : O JARDIM DAS BORBOLETAS

Márcia Ramos, durante muitos anos hesitou em enfrentar todos os problemas que lhe atormentavam e tornavam empecilho de suas conquistas. Somente hoje ela liberou-se dos amarros de suas frustrações.Sua obra traz a público sua dor, porém permitiu, finalmente conseguir completar-se por inteira. Seu embate com seus fantasmas antigos, suas memórias fragmentadas, medos camuflados, não foi nada fácil de serem vencidos.Talvez haverá muitos que a compreendam, outros talvez nem puderam compartilhar desse momento, mas sua atitude foi livre como uma borboleta, cuja maior razão é a sua própria história de vida.Sua obra agora lançada em Manaus, é no mínimo corajosa, autêntica e com um olhar no seu passado de criança. A autora acredita que devam existir muitas histórias como a dela, talvez outras até piores em dor e humilhações.A obra retrata principalmente o abuso animalesco de que foi vítima aos nove anos de idade. Sua fala, é a fala de quantas vítimas de abuso sexual que gostariam de gritar ao mundo suas dores, sofrimentos e humilhações. Mulher forte e guerreira, é a voz de ajuda a cada uma dessas vítimas que o mundo produz aos montes.Sua obra é um bálsamo que tratará o sofrimento de tantas mulheres que sofreram abuso sexual. E uma obra que esclarecerá como deve agir quem precisa de ajuda. Ajudando, compreendendo, dando amor, sem ter vergonha de ser feliz.Vários são os temas tratados na obra, definição de abuso sexual na infância ou na adolescência, ajudando a recuperar vítimas e parentes deste flagelo da humanidade.O tema é tratado com abordagem fácil e prática. Construindo acesso fácil a todos que vivenciaram essa dolorosa experiência. Mostrando os caminhos que cada um deverá seguir para que consiga lidar de uma forma mais corajosa com as seqüelas do abuso.O tema da recuperação é tratado como prioridade e a percepção dos progressos são de fundamental importância.É sem dúvida uma obra importante. O Programa Literatura em Foco com a autora Márcia Ramos vai ao ar na terça-feira dia 27 de maio às 21:45 e com alternativo na quarta-feira às 18:30 horas, todos horários Brasília.Nós do Amazonsat, esperamos por você.Até lá.

terça-feira, 3 de junho de 2008

Revirando e revivendo...

Algumas pessoas me perguntaram: .Porque você estárevirando nisto agora?. Por que? Pelo simples fato de que istotem controlado a minha vida até hoje. Isto está me destruindode todas as formas. Isto tem destruído tudo em minha vida quepossui algum valor e me priva de ter uma vida emocionalestabilizada. Isto me priva de amar de forma sincera, isto tiroua minha criança de mim e impediu que eu prosperasse. Se eutivesse uma infância confortável, cercada pelo amor, proteção esegurança eu poderia ser alguém hoje. Eu sei que qualquer coisaque eu encare agora é um fardo a mais que eu terei de carregarpara o resto da vida. Eu não me preocupo se isto aconteceu há500 anos atrás! Isto influenciará minha vida todo tempo e istoimporta para mim. Isto é muito importante!O efeito em longo prazo de um abuso sexual na infânciapode ser tão perverso que muitas vezes é difícil definir exatamentecomo o abuso te afetou. Isto permeia toda sua identidade, seusrelacionamentos íntimos, sua sexualidade, sua família, sua vidaprofissional e também sua sanidade. Para onde você olharperceberá os efeitos.Uma sobrevivente me disse que era semelhante às revistasem quadrinhos em que aparecia uma bicicleta dentro de umaárvore, bananas crescendo na orelha de alguém e todas as pessoasde cabeça para baixo. O título acima dizia: .O que está erradocom estas figuras?. Parece óbvio, não?Muitos sobreviventes estão ocupados demais sobrevivendo, que não percebem as formas que eles foram feridospelo abuso. Você não poderá recuperar-se até que perceba quaisas áreas que estão precisando de recuperação.

O SILÊNCIO

As estradas desta vida são cheias de obstáculos e eles aparecem quando a gente menos espera. Pegam-nos de surpresa e acho que testam a firmeza das nossas crenças e a sinceridade de nossas atitudes. Ninguém passa por momentos assim, sem que sofra um abalo, mas algum tempo depois, como num lago onde jogaram uma pedra, as águas se acalmam novamente e tudo parece ser como antes, como se nada tivesse acontecido – o que não é verdade. Nunca somos os mesmos, dia após dia, principalmente depois de viver momentos que mexem forte com o nosso emocional. Mas a nossa estrutura interna, divina, nos apóia e ela, sim, não se modifica. Está sempre lá, no silêncio das profundezas, nos iluminando o raciocínio e fortalecendo as decisões. Esses são os momentos de provas... passam, deixando-nos sempre mais fortes.E cada dia mais, eu amo o silêncio. Embora precise me comunicar, constantemente, prefiro nada dizer, para responder a situações às vezes de difícil definição, mas de fácil compreensão. Acho que me entende. Nem tudo que a gente sente, pode ou consegue expressar. Mas nem por isso a emoção deixa de existir e como... Acho até que o mais pessoal em nossos seres raras vezes pode ser descrito em palavras. Mas pode ser captado num olhar e pode ser intuído no silêncio.A Natureza, expressão divina, nos fala sem palavras; nos harmoniza nos dias em que sofremos muito, mostrando-se igual, no seu ritmo habitual, como se estivesse caçoando de nossa dor – mas certamente está nos afirmando: isso também vai passar... como o dia, como a noite, como a onda que vem e que vai, como o desabrochar de uma flor, como o orvalho que se despede com a chegada do Sol!Neste silêncio me embalo e me fortaleço. Pois a ele me entrego, confiante da Grande Presença que é Amor e que me preenche inteira e leva embora as desarmonias, as inquietudes e os medos.Numa lembrança silenciosa de um momento de amor, me nutro de esperança e me conecto com algo e com alguém, que certamente sentirá esta presença carinhosa, neste momento. Sem palavras, sem perguntas, sem atropelos, sem ansiedade...Silêncio querido, você pra mim é uma fonte nutridora de Amor!